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250mg/dl ou mais de glicemia. Faço ou não atividade física?

É muito comum encontrarmos profissionais de saúde, que recomendam não iniciar a atividade física se a pessoa com diabetes estiver com glicemia acima de 250mg/dl. Mas o que realmente ocorre no corpo se o praticante estiver com esta taxa? Somente este valor é o indicativo para que a pessoa não se exercite?

Para responder a estas perguntas, o Portal De Bem com a Vida entrevistou a educadora física e especialista em diabetes, Sonia de Castilho, que inclusive enviou artigos daAmerican Diabetes Associatione as últimas diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes.

A educadora relata os riscos de uma pessoa iniciar os exercícios com glicemia maior de 250 mg/dl acrescida de corpos cetônicos. “A atividade física de maior intensidade pode elevar a glicemia, graças à ação dos hormônios contrarreguladores da insulina (adrenalina, por exemplo). Se a pessoa está com a glicemia descontrolada (hiperglicemia continuada), pode apresentar cetona no sangue, com o risco de entrar (ou já estar) em cetoacidose. E o exercício pode exacerbar os riscos, principalmente nos pacientes com diabetes tipo 1, pois pressupõe falta de insulina (exercitar-se sem insulina). Daí usava-se o número (250mg/dl) como um parâmetro para não se correr riscos”.

Para detalhar mais esta temática, Sonia explica o processo. “A atividade física vai exacerbar a quebra de gordura já intensificada pela hiperglicemia continuada. Os resíduos dessa quebra de gordura (chamados de corpos cetônicos) vão para o sangue, que se torna mais ácido (daí cetoacidose). Ou seja, o exercício pode agudizar a entrada de cetonas no sangue e predispor e/ou agudizar a cetoacidose, que por si só já é uma situação de risco. E aí está o “X” da questão: uma pessoa com cetoacidose não pode se exercitar porque está doente, em uma situação de risco que pode até levar ao coma. Da mesma forma que não vai se exercitar se estiver com pneumonia. Mas uma pessoa com uma glicemia pontual de 250, 300, 350 mg/dl não está doente. E se não está em cetoacidose, o exercício pode até ajudar”.

Se a pessoa começar a atividade, ela precisa ficar atenta à intensidade. “Em geral (nada é regra quando se trata da resposta glicêmica ao exercício), atividades leves e moderadas tendem a fazer a glicemia cair. Já atividades de alta intensidade tendem a fazer a glicemia subir (lembrando sempre que depois do exercício pode haver uma queda – hipoglicemia tardia)”, alerta a educadora.

Para comprovar estas informações, Sonia cita o que os últimos estudos da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e a American Diabetes Association(ADA) dizem a respeito. “Nas recomendações de 2004 e 2006, a ADA já falava em evitar exercícios com 250 mg/dl apenas na cetoacidose. E acima de 300 mg/dl, sem cetona, fazer o exercício “com cautela”. Nas recomendações de 2010 e 2011, a ADA diz que a hiperglicemia isolada não é motivo para se suspender ou evitar a atividade física. Nem chega a citar os 250 mg/dl. Fala em “hiperglicemia” e recomenda, apenas para o paciente com diabetes tipo 1, que na presença de cetona evite exercícios intensos. Ou seja, mesmo no caso de cetose, a recomendação não é evitar o exercício e sim fazer uma atividade leve. Na recomendação de 2014 para paciente tipo 1, a recomendação fala em evitar exercícios intensos na presença de cetona e hiperglicemia SEVERA. As diretrizes da SBD 2013-2014 falam que, na ausência de cetose, realizar exercícios com cautela ou fazer correção”.

Para saber se estamos com cetoacidose, o melhor seria fazer o teste para verificar a presença de cetona. “Na falta dele, basta observar-se. Primeiramente, pensar em como esteve a glicemia nos últimos dias. Ficou alta direto? A sede aumentou? A fome também? Outra coisa é a disposição: quem está em cetoacidose sente um grande mal estar. Muito, muito cansaço, exatamente porque não tem energia (a glicose não está indo para as células para gerar energia). Tem ainda o hálito cetônico (parecido com maçã podre)”, alerta Sonia.

No caso do paciente apresentar esta glicemia mais alta, a educadora comenta os cuidados. “Se o indivíduo estiver se sentindo bem, pode seguir com o treino, mas é recomendável evitar atividades muito intensas. O ideal também é que, nesse caso, faça nova ponta de dedo em 15 ou 20 minutos para verificar o comportamento da glicemia durante o exercício. Caso a glicemia suba, melhor interromper o treino. Importante também é não se esquecer da hidratação. Outra dica é começar o treino com a atividade aeróbia para evitar que a glicemia suba mais. Desde que seja de fato uma atividade aeróbia. Uma corrida intensa, por exemplo (85%-95% da frequência cardíaca máxima), já não é mais uma atividade aeróbia. Vale lembrar que um treino leve de musculação ou hidroginástica também pode ser indicado”.

Por isso, Sonia recomenda a prática de atividade física lembrando que “o exercício reduz a glicemia porque os músculos consomem glicose para gerar energia para o movimento. Algumas pessoas, quando começam a praticar uma atividade física, têm hipoglicemias intensas e frequentes, porque o corpo não está acostumado àquele movimento e, portanto, àquele consumo de glicose. Outras pessoas, também sedentárias, quando começam a se exercitar, podem ter aumento da glicemia durante a prática. Isso acontece normalmente porque aquele exercício praticado tem uma intensidade alta para aquela pessoa. Com o tempo, o corpo se acostuma ao esforço e a glicemia se estabiliza. Nos dois casos, com a prática regular, a glicemia tende ficar mais baixa continuamente (efeito crônico)”.

Assim, nada melhor do que se conhecer e se monitorar mais para realizarmos a atividade física com segurança e conhecermos os seus efeitos.

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